domingo, maio 28, 2006

Timor fragilíssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

<Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais>>

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói

Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violências mortes crueldade
E anos após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia --- espanto prodígio assombro ---
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um bruto silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado

O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens

Sophia de Mello Breyner Andresen

Como me deixa triste estas guerras...
sem nexo nenhum...como podem pensar em matar pessoas...pura ignorância

4 comentários:

Virginia Pereira disse...

Olá Carpediem, prazer em recebe-la, vejo voce sempre nesta blogosfera imensa...
Adorei o texto que me enviou (assim como todos postados em seu blog, claro!), e concordo com a observação, para que tanta violência e mortes, era até mais fácil e barato a PAZ não é mesmo??
Mas apesar de tudo a gente não vê a imprensa dar mais atenção ao que está acontecendo lá, é mais fácil falar dos EUA e Iraque!!
Vou postar este texto, com creditos para o seu blog, porque achei lindo, um complemento ótimo para minha postagem, vamos LUTAR POR UM MUNDO MELHOR!!
Este nome só é usado em lindos blogs, existe um, não sei se conhece, www.carpediempoetme.blogspot.com com poesias em inglês, muito bonito também.
Estou linkando voce, para estreitarmos nossa amizade virtual!
Um beijão, obrigada pela visita e lindo texto, boa querta-feira!

Anónimo disse...

Para quê tanta violência?...
Quatro anos de construção, de sonhos, de um certo orgulho partilhado por um bando de idealistas que apostaram no nascimento da mais jovem nação do século XXI...
Dá vontade de mandar tudo às "malvas", calçar os chinelos e os outros que se amanhem...
Obrigado pelas tuas visitas ao "Chuviscos".
Não te "linkei" ainda... mais por preguiça, mas costumo ir dar uma "vista de olhos" a este cantinho.
Gostei de saber que há mais pessoas que conhecem Cinatti, a sua obra e o seu amor por Timor.
A Sophia e ele foram grandes amigos e visita da sua (da Sophia) casa em Lisboa.
Um abraço

Klatuu o embuçado disse...

Bem escolhido também... e oportuno!

Lili disse...

Lindíssimo.