quinta-feira, agosto 21, 2008

A dieta dos crus




O regime à base de alimentos crus tem cada vez mais adeptos. Saiba o que os leva a tomar esta opção e o que pensam os nutricionistas «Sinto que estou a limpar as toxinas acumuladas ao longo dos anos e que o meu corpo caminha para um equilíbrio. Deixei de me sentir inchada. Perdi e continuo a perder o peso que tinha em excesso, de uma forma gradual.» «A minha pele está mais luminosa e macia. Os meus intestinos funcionam como um relógio suíço. Tenho menos fome e vontade de comer. Raramente me apetece consumir doces.» «Sinto-me com mais energia e, nas situações de stress, não vou abaixo com tanta facilidade.» As palavras poderiam ser de um anúncio publicitário, mas pertencem à realidade. Olga Silva, 33 anos, abandonou o fogão para iniciar uma dieta rigorosa, onde os alimentos cozidos são substituídos por refeições à base fruta fresca e seca, vegetais, rebentos e algas. Após quatro meses, garante estar «a adorar esta alimentação», baseada na preservação das enzimas e nos seus benefícios para o organismo.

Dieta de estrelas

O conceito, conhecido como The Raw Food Detox Diet (A Dieta Desintoxicante dos Alimentos Crus), deixou de ser uma prática dos hippies dos anos 60 para atrair cada vez mais adeptos em todo o mundo, em especial entre as vedetas americanas. Actores como Woody Harrelson, Demi Moore e Alicia Silverstone são algumas das figuras de Hollywood rendidas à dieta dos alimentos crus. Segundo a imprensa internacional, a estilista Donna Karan perdeu 20 quilos graças a este regime alimentar. Alguns países europeus já têm restaurantes inteiramente dedicados a este tipo de dieta e em cidades americanas como Nova Iorque, Los Angeles e Chicago, os restaurantes de raw food tornaram-se a última moda.

Experiência positiva

Em Portugal, esta vertente de vegetarianismo ainda tem pouca expressão. No entanto, quem segue a dieta considera que se sente mais saudável graças à ingestão do que chama de «alimentos vivos, leves e ricos em enzimas», incluindo rebentos de várias variedades (lentilhas, feijão mungo e alfafa) que são muitas vezes germinados em casa por quem pratica este tipo de dieta. No caso de Olga Silva, a mudança foi gradual e aconteceu depois de participar num programa de desintoxicação alimentar de 40 dias: «Só ingeria sumos e smoothies (preparados com a liquidificadora) e senti-me tão bem e leve, tão centrada em mim que só queria voltar a recuperar aquele bem-estar físico, mental e espiritual.» «Em Outubro de 2007, retomei esta alimentação, começando com uma percentagem de 50/50 (metade cru, metade cozido). Iniciei, também, a prática de Kundalini Yoga, um sistema integral que pratica 22 diferentes ramos do yoga num único sistema.» «Este sistema foi fundamental», sublinha. «Desde Janeiro deste ano [2008], passei a cerca de 90/100 por cento à base alimentos crus», acrescenta ainda.

Prós e contras

A nutricionista Carla Vasconcelos confirma que «ao evitar cozinhar os alimentos acima de 45 graus, as enzimas são preservadas e podem ficar disponíveis para ajudar nos processos digestivos do organismo. Da mesma forma que são protegidos alguns nutrientes termoláveis, principalmente, vitaminas», tal como alegam os seguidores da dieta dos crus. No entanto, o conceito não é pacífico e são raros os especialistas em ciências alimentares que aconselham este tipo de dieta. Apesar dos benefícios, a especialista defende que «uma alimentação à base de alimentos vegetais crus se torna restrita em alguns nutrientes como proteínas de alto valor biológico (de origem animal), que contêm aminoácidos essenciais, e também em hidratos de carbono e gorduras». Perigos ocultos Na opinião da nutricionista, não só ficarão a faltar ingredientes essenciais, como o consumo de alimentos sem cozedura pode ser perigoso para a saúde: «Os adeptos desta dieta acreditam que ajuda a desintoxicar o organismo». «Mas não me parece que seja tão linear, pois os alimentos ficam mais expostos a microrganismos prejudiciais. Há, portanto, um maior risco de ingestão de alimentos contaminados com microrganismos nefastos e de não satisfazer as necessidades nutricionais», refere. Exemplo disso são os espinafres e a beterraba, ricos em nitratos e enzima nitrato-redutase. «Estas substâncias podem provocar metahemoglobinemia, especialmente perigosa nas crianças, causada pela oxidação do ferro da hemoglobina ao estado férrico, que não é funcional», explica. Os defensores desta dieta afirmam, contudo, que é possível evitar o risco de intoxicação e de insuficiência alimentar. O segredo passa, acreditam, por uma mudança em quatro fases. Só na última etapa, é que a dieta «elimina» os produtos de origem animal e passa a 80 a 100 por cento de alimentos crus. Saiba que... Um dos principais rostos deste conceito é Charlie Trotter, autor de vários livros da chamada culinária a cru e apresentador de «The Kitchen Sessions with Charlie Trotter», no canal televisivo PBS. Proprietário de um restaurante em Chicago, este chef revelou, em entrevista à revista «Época», o segredo das refeições a frio: «Os sabores dos alimentos crus são muito limpos, puros e directos. (...) Se servir o menu inteiro só de crus e não disser nada, a pessoa nunca vai adivinhar. Na verdade, sentir-se-á óptima, mais leve e lúcida. Precisará de menos horas de sono e a sua pele ficará mais elástica.»

10 mandamentos fundamentais
Os conselhos dos defensores da alimentação a cru:

  • Conheça a origem e a qualidade dos alimentos que consome.
  • Saiba quais os aditivos químicos presentes na sua alimentação.
  • Substitua os alimentos como a carne, por «alimentos preservadores da vida», como a fruta e os vegetais.
  • Combine, pelo menos, três alimentos diferentes em cada refeição.
  • Substitua as bebidas cafeinadas por chás herbais ou, de preferência, água.
  • Prefira produtos lácteos de cabra ou ovelha, mais facilmente digeridos. Pode também optrar por bebida de soja ou de arroz.
  • Coma quando está relaxado e mastigue bem os alimentos.
  • Use mel, xarope de ácer ou malte de cevada, em vez de açúcar refinado. A comida com açúcar tende a criar muito stress para o organismo.
  • Experimente pão à base de centeio, milho ou até de arroz. Se tiver de comer trigo, prefira o integral.
  • Aposte nos smoothies (comida passada pela liquidificadora). Permitem comer mais em menos tempo e ajudam o estômago a digerir os alimentos.

Fonte: www.tonysamara.org

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Carla Vasconcelos (nutricionista)

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